Geração solar ganha impulso no Brasil.

São Paulo, Brasil - Metas de universalização da energia abrem espaço para crescimento dos painéis fotovoltaicos. O programa de universalização de energia elétrica, desenvolvido pelo Ministério de Minas e Energia (MME) e regulamentado na semana passada pala Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), deu ânimo novo às empresas que trabalham com energia solar. Com uma participação modesta na matriz energética (estimativa de minguados 10 MW) e alto custo de instalação (US$ 8 mil por kW), a expectativa das empresas que fabricam painéis solares de geração elétrica (fotovoltaicos) incide sobre o atendimento para levar energia para as cerca de 10 milhões de famílias que vivem atualmente no escuro.

 

Da única fabricante nacional de painéis de silício para converter luz solar em energia elétrica, a Heliodinâmica, a gigantes mundiais como Shell Solar, Kyocera e BP Solar, a expectativa é de crescimento do mercado com o atendimento às metas do programa de universalização. Pelas estimativas do MME, cerca de 90% desse mercado está em comunidades carentes isoladas e moradias em zona rural, onde a chegada de linhas de transmissão é inviável, que terão de ser atendidos até 2015.

O MME será responsável pela parte social e vai arcar com os custos de implantação de sistemas de energia para escolas, postos de saúde e outras formas de atendimento comunitário. Para Manoel Nogueira, coordenador geral de tecnologia de energia da Secretaria de Desenvolvimento Energético, órgão do MME, as previsões sobre o mercado são apenas a ponta do iceberg. "Na verdade, o que as empresas vêem é um mercado bem grande", diz.

 

Subsídios federais.

André Ramom, também técnico da Secretaria de Desenvolvimento Energético, afirma que os aportes do governo federal para subsidiar parte das metas iniciais da implantação do programa sairão do R$ 1 bilhão arrecadado por mecanismos como a CDE (Conta de Desenvolvimento Energético), tarifa de UBP (Uso de Bem Público) e das multas aplicadas pela Aneel. Segundo ele, cabe ao ministério definir o valor de recursos que serão repassados às distribuidoras, o que poderá resultar em alterações nos planos de metas que devem ser encaminhados pelas concessionárias de energia à Aneel.

O coordenador do Cresesb (Centro de Referência Para Energia Solar e Eólica Sérgio de Salvo Brito), Hamilton Moss, afirma que a tendência é que o preço médio de instalação, atualmente da ordem de US$ 8 mil por kW, possa diminuir em função do crescimento do mercado. Segundo Moss, atualmente há entre 10 MW a 12 MW de energia solar instalada no Brasil. "A tendência é que o mercado aumente nos próximos anos por conta da universalização", disse. Segundo Moss, a média de crescimento mundial em energia solar é de 25%, índice que pode ser alcançado nos próximos anos por aqui.

A Shell Solar estima um potencial de negócios de R$ 60 milhões no Brasil para este ano, com a venda de painéis fotovoltaicos. Segundo o diretor comercial da empresa, Clóvis Mello, a expectativa da Shell Solar no Brasil é abocanhar uma fatia de R$ 15 milhões em 2003. A Shell Solar atua no mercado brasileiro de energias renováveis desde outubro de 2002 e forneceu equipamentos para a implantação de Estações Rádio Base (ERBs) nos programas de expansão de telefonia pública em regiões como a Amazônia e o Nordeste. A multinacional inglesa, que adquiriu no ano passado a divisão solar da gigante alemã Siemens, movimenta R$ 200 milhões neste segmento em termos globais e tem investimentos de US$ 1 bilhão previstos até 2005.

Para o diretor industrial da Heliodinâmica, Marcos Torrizella, o programa de universalização e os projetos de atendimento social em energia elétrica são considerados as principais alavancas para o setor. Torrizella afirma que a empresa atualmente produz entre 2 mil a 2,5 mil painéis fotovoltaicos por mês, mas que este volume representa pouco mais de 10% da capacidade da empresa. A expectativa dele é conseguir contratos para fornecimento para atender escolas, postos de saúde e também participar da disputa com as gigantes mundiais nos contratos para as metas de universalização.

Adaptado de:
Raymundo de Oliveira,
Gazeta Mercantil, 06 de Maio de 2003.