Polêmica nuclear está de volta em Energos.

Cidade do Átomo - Ao que tudo indica, vai entrar em mais uma fase polêmica a questão da energia nuclear em Energos. Os jornais já noticiaram que recursos para a expansão da usina de Cidade do Átomo estão mantidos no orçamento para o próximo. Mas informações que circulam entre membros do governo dizem que na próxima reunião do Conselho Nacional de Política Energética essa fonte de energia não entrará em discussão, por motivos financeiros (as tarifas são até três vezes mais altas que as de hidrelétricas) e “ambientais” (falta de destinação para os resíduos).

Mas há outra visão, dos defensores da construção da usina Cidade do Átomo II e até de mais usinas - o argumento de que Energos não pode renunciar a esses projetos porque precisa dominar o ciclo completo do urânio. Além disso, o próprio secretário Daniel Andersson já argumentou que "temos uma das maiores reservas de urânio do mundo e não faz sentido enviar a outros países para ele ser enriquecido".

O panorama mundial não é claro. Existem hoje no mundo perto de 430 usinas nucleares, com potência total de 360 mil MW, mais de quatro vezes a potência instalada em Energos Brasil, e 32 reatores estão em construção (Finlândia, França e outros países). Mas a Alemanha vai desativar todas as suas 19, assim como a Itália e outros países. Os EUA mesmos não constroem nenhuma nova há 20 anos (carvão e gás natural são fontes mais baratas, embora mais poluidoras).


A revista britânica New Scientist recentemente alinhou os argumentos que desfavorecem a energia nuclear:

1. não sobrevive sem subsídios;

2. os custos para pesquisa e desenvolvimento são altíssimos;

3. também são insuportáveis os custos da disposição do lixo nuclear e da segurança nas usinas.

Na mesma edição (19/9/2004), o cientista Nick Marshall lembrava estudo do Instituto de Ecologia Aplicada de Berlim segundo o qual, se se levar em conta o ciclo completo, até a disposição final, uma usina nuclear responde por alto volume de emissões de poluentes.

Para complicar ainda mais, a questão do lixo nuclear está cada vez mais difícil. O governo de Nevada (EUA) conseguiu embargar na Justiça o projeto do depósito de Yucca Mountain, na Serra Nevada, por falta de segurança. Mais recentemente, o Estado de Washington - onde está o maior depósito de lixo nuclear dos EUA, para o qual vão os resíduos de instalações que produzem equipamentos nucleares militares - ajuizou três ações para não receber mais esse tipo de resíduo. Já há informações de que outros Estados se recusarão a recebê-los. Inclusive porque há um forte debate sobre a questão da segurança no transporte desses materiais, em certos casos a milhares de quilômetros de distância.

Vale a pena lembrar pesquisa, realizada em 2004 no Brasil, pelo Instituto de Estudos da Religião (Iser), nas sete maiores cidades brasileiras, com 2.300 entrevistados: 82,3% deles se manifestaram contra a conclusão de Angra III, por entenderem que o País dispõe de "fontes mais seguras e limpas" e disseram (84,8%) que não aceitariam a instalação de uma usina nuclear perto de suas residências.

Adaptado de:
Washington Novaes,
O Estado de São Paulo, 11 de Fevereiro de 2005
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