Hidrelétrica ameaça cachoeiras e ecoturismo no Brasil.
A construção de uma hidrelétrica
no noroeste de Mato Grosso, no centro-oeste brasileiro, vai extinguir
uma área turística que integra um programa do governo federal
de fomento ao ecoturismo na região amazônica. A avaliação
é de especialistas em questões ambientais e membros do Ministério
Público Estadual. |
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O ecólogo e professor da UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso) Francisco Arruda Machado afirmou que, com a construção da obra, está prevista uma redução da vazão das cachoeiras, durante sete meses do ano, de 30 metros cúbicos por segundo para 6 metros cúbicos por segundo. "As cachoeiras das Andorinhas e de Dardanelos, que formam o complexo, irão se transformar em dois filetes d'água." Sérgio Adão Simião, do Centro Universitário de Várzea Grande, disse que "a construção da hidrelétrica, além de destruir a identidade do município, que são as cachoeiras, trará impactos socioeconômicos negativos à região". Para ele, "a cidade não terá como absorver, em setores como o da saúde e da habitação, as pessoas que se deslocarão para a área durante a construção". Segundo Dorival Gonçalves Júnior, professor de engenharia elétrica da UFMT, a usina de Dardanelos tem concepção inadequada para o tipo de rio, e a energia gerada por ela sairia cara demais. A vazão do Aripuanã é extremamente variável: ela vai de 1.520 metros cúbicos por segundo na cheia a 18 metros cúbicos por segundo na seca. Em rios desse tipo, o ideal é fazer o que os técnicos chamam de usina de reservatório de acumulação, com uma barragem. A usina de Dardanelos foi concebida como uma usina de fio d'água, indicada para rios com vazão constante. "Você vai ter a usina parada vários meses por ano porque não tem água", diz Gonçalves Júnior. Para piorar, a usina disputaria água do rio com outras duas PCHs (Pequenas Centrais Hidrelétricas): uma do governo do Estado, que gera eletricidade para Aripuanã e que usa 12 metros cúbicos de água por segundo, e outra de um empreendedor particular da região, que usa 14 metros cúbicos por segundo. "Na semana passada, o rio teve vazão de 28 metros cúbicos por segundo. Se a nova usina estivesse já em operação, ela teria 2 metros cúbicos por segundo para funcionar", afirma. Outro complicador é que a linha de transmissão que precisa ser construída não está computada no custo da energia da usina, calculado em R$ 800 por megawatt/ hora. Para ser interligada ao sistema energético nacional, ela precisaria de uma linha de 600 km, que dobraria o custo do projeto, orçado em R$ 538 milhões. Na análise do promotor do Meio Ambiente de Aripuanã, Kledson Dionysio de Oliveira, "se o projeto for realizado, inviabilizará a beleza cênica das cachoeiras". "Suprimir a beleza cênica do local é simplesmente extinguir a área do município do programa do governo federal." Oliveira disse que o Eia-Rima -estudo e relatório de impacto ambiental necessários para a realização de uma obra- apresentado pelas empresas não contempla todos os prejuízos que a construção pode causar à região. "O estudo desconsidera parte da obra. Não considera as linhas de transmissão que terão de ser instaladas. Não é possível conceder um empreendimento de geração de energia, destinado à alimentação do sistema nacional, sem essa previsão." As empresas Eletronorte e Odebrecht negaram que a construção da obra possa causar as conseqüências apontadas pelos técnicos e pelo promotor de Justiça. Além disso, afirmaram que o estudo e o relatório foram feitos cumprindo todos os critérios do termo de referência emitido pela Secretaria do Meio Ambiente do Estado. O procurador de Justiça João Batista de Almeida, do Ministério Público Estadual de MT, classificou de "um golpe de morte ao ambiente da região" a possível construção da hidrelétrica. O Eia-Rima, divulgado em audiência pública na cidade de Aripuanã está sendo questionado pelo MPE. |
Adaptado de:
José Eduardo Rondon,
Folha de São Paulo, 14 de Setembro de 2005.