China inaugura a maior hidrelétrica do mundo.

Depois de 13 anos de obras, o governo da China inaugurou no fim de semana, oficialmente, a construção da represa que substituirá Itaipu (controlada por Brasil e Paraguai) como a maior hidrelétrica do mundo: o Complexo de Três Gargantas -185 metros de altura e 2,3 quilômetros de extensão -no rio Yang-tsé. Apesar da inauguração oficial, com a cobertura maciça da mídia chinesa, típica de grandes eventos, a obra só ficará totalmente pronta quando estiverem em operação todas as 26 turbinas geradoras de energia, em 2008. Hoje, a usina opera apenas com cerca de 50% da sua capacidade -14 turbinas.

Com investimento total estimado de US$ 25,2 bilhões, capacidade de geração que chegará a 84,7 bilhões de kilowatts/hora (kWh) por ano e previsão de 18 gigawatts de potência, a obra já é considerada a nova Grande Muralha do país. Itaipu, que tem uma geração anual maior do que a que Três Gargantas atingirá, perderá em potência -está sendo ampliada para 14 gigawatts.

-Este é o maior projeto de engenharia da História recente da China -disse Li Yong'an, gerente-geral da Companhia de Desenvolvimento do Projeto de Três Gargantas, à agência de notícias Xinhua.

Apesar da festa, muito ainda há de ser feito para que a usina -cujas 14 turbinas geraram 49 bilhões kWh em 2005 - atinja sua capacidade total. E as dificuldades não se restringem aos cálculos de engenharia. Mais de 1,12 milhão de chineses foram compulsoriamente movidos de áreas inundadas pela represa e muitos lutam por indenizações para recomeçar suas vidas, apesar do apoio governamental.

O governo tem justificado o projeto não apenas pela energia a ser gerada, mas pela necessidade de controle das enchentes no rio -que, nos últimos cem anos, mataram mais de um milhão de pessoas.

-Vamos gastar anualmente US$ 1,2 milhão em prevenção contra a poluição do rio e criamos um sistema de US$ 2,5 milhões para limpar as águas do lixo- disse o vice-gerente-geral da represa, Cao Guangjing.

 



Especialistas temem danos ao meio ambiente.

Há quem diga que estes esforços não são suficientes para prevenir desastres ecológicos e proteger fauna e flora locais. Em entrevista à TV CNN, o jornalista Jin Hui, que se especializou em cobrir os problemas ambientais causados pela represa, diz que o governo não está se preocupando em retirar materiais tóxicos de empresas abandonadas e que serão inundadas. Ou em obrigar as empresas que operam ao longo do Yang-tsé a montar eficientes sistemas de tratamento de dejetos.

Há ainda a conseqüência da própria transformação do rio em sistema navegável para grandes barcos. Com a represa, navios de dez mil toneladas serão capazes de percorrer de Xangai, na costa Leste, à Chongqing, dois mil quilômetros por dentro do país. O rio, dizem os especialistas, com um ritmo menor de escoamento de água para o oceano e sobrecarregado por um transporte fluvial mais pesado, correria o risco de se transformar num esgoto a céu aberto.

O governo nega as acusações. E garante que a hidrelétrica -que está no centro dos esforços da China para reduzir sua dependência de carvão e petróleo como geradores de energia -é uma obra que se preocupou não apenas com a conservação do rio, mas com a preservação da indústria de turismo, que, anualmente, leva milhões de chineses para as belíssimas gargantas do Yang-tsé.

-Pensando nas ameaças, fizemos uma estrutura capaz de suportar qualquer ataque terrorista e um terremoto de até sete graus na escala Richter - afirmou Cao Guangjing.

Adaptado de:
Gilberto Scofield Jr.
O Globo, 22 de Maio de 2006.