A opção atual pelas hidrelétricas no Brasil.

A Conferência Internacional de Energias Renováveis, realizada em Bonn, na Alemanha, em junho, foi a primeira reunião em escala mundial para tratar exclusivamente do tema. Ali deveria ser estabelecido, o que ocorreu, um compromisso para a promoção do uso de energias renováveis. A definição do que é energia renovável era estratégica, pois permitirá estabelecer metas para investimentos a serem realizados.

As decisões levarão as agências de crédito e de fomento, como o Banco Mundial (Bird) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), a direcionar recursos para financiar aproveitamentos de fontes de energia definidas como renováveis.

À delegação brasileira cabia defender os interesses do Brasil. No centro deles está a hidroeletricidade como principal fonte de energia renovável. De início, estabeleceram-se duas tendências, a dos países desenvolvidos e a dos em desenvolvimento.

Os primeiros já aproveitam mais de 70% de seus potenciais de geração hidráulica e tentavam excluir as grandes hidrelétricas do conceito de energia renovável. Defendiam as chamadas novas energias renováveis, restritas às fontes eólica, solar e biomassa, e admitiam a hidroeletricidade apenas de unidades geradoras com capacidade inferior a 10 MW e reservatórios de até 3 milhões de metros cúbicos, o que excluía quase todas as hidrelétricas do Brasil. Junto com a China, a Índia e países africanos, o Brasil assegurou o reconhecimento da hidroeletricidade, de grandes ou pequenos projetos, como fonte de energia renovável.

 

A hidroeletricidade responde por 91,7% da energia gerada no mundo. E será por muitos anos a principal fonte renovável com viabilidade econômica e eficiência energética para substituir parte da energia derivada de fontes fósseis. O mundo aproveita apenas 33% dos potenciais hidrelétricos e gera 2.140 TW/h/ano de energia, suficientes para poupar cerca de 4,4 milhões de barris equivalentes de petróleo/dia. Mas os aproveitamentos são desiguais. Enquanto nos países industrializados restam poucos potenciais para geração, a África explora apenas 7% de seu potencial; a Ásia, 22%; a América Latina, 33%; e o Brasil, 24%.

O Brasil e os países em desenvolvimento estariam comprometendo suas economias se aceitassem a exclusão das grandes hidrelétricas, porque abririam mão de uma fonte geradora com baixos custos de instalação, operação e manutenção. Além disso, as novas fontes são intermitentes, ou seja, não geram energia na mesma capacidade o ano inteiro.


Não se pode ignorar os danos ambientais e sociais causados por grandes hidrelétricas, mas eles podem ser mitigados na execução dos projetos. Danos ambientais, aliás, não são exclusividade da hidroeletricidade. Qualquer unidade geradora de energia pode causar graves prejuízos socioambientais se concebida de forma equivocada e em local inadequado.

O Brasil defende a promoção de novas fontes de energias renováveis e tem o compromisso de que elas respondam por 10% do consumo de energia nos próximos anos, desde que o custo delas não supere em 5% a tarifa normal de suprimento. A Eletrobrás está contratando 3,3 mil MW do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa). Com o Proinfa, a emissão de dióxido de carbono no Brasil será reduzida em até 2,5 milhões de toneladas/ano.

A consolidação do programa de combustível verde, iniciado com o etanol, avança com o desenvolvimento do biodiesel a partir de oleaginosas como a mamona. A mistura de 2% de biodiesel ao diesel mineral entrará em escala comercial no início de 2005. Até 2010, a meta é chegar a 10% de mistura.

O biodiesel é ainda um programa de inclusão social, com geração de emprego e renda prioritariamente em regiões de elevados índices de pobreza e de baixos aproveitamentos das terras para produção de alimentos. Como se vê, o Brasil busca explorar todos os seus recursos naturais de forma sustentável e priorizando a eficiência energética. Dentro do que ficou consolidado em Bonn.

Adaptado de:
Dilma Rousseff,
O Globo, 19 de Julho de 2004.