Uma dupla de pesquisadores da Universidade Stanford, nos EUA, acaba de soprar um pouco mais de pó sobre os já malvistos combustíveis fósseis. Eles afirmam que a energia eólica pode competir com vantagens com o carvão e que adotá-la em larga escala é mera questão de vontade política.
Em artigo na revista "Science" (www.sciencemag.org) desta sexta-feira, Mark Jacobson e Gilbert Masters argumentam que, se computados os custos sociais e ambientais da produção de energia pela queima do carvão, a instalação de moinhos de vento poderia sair até pela metade do preço.
O trabalho é mais um argumento a favor das chamadas energias renováveis num momento em que as fontes tradicionais, como o carvão mineral e os derivados do petróleo, estão na ordem do dia.
Ao mesmo tempo em que são apontados como os vilões ambientais do século, responsáveis pelo aquecimento global, os fosseis tem seu uso incentivado nos EUA, como forma de garantir o suprimento de energia do país.
Apesar de desejadas devido ao seu baixo impacto na saúde e no ambiente, as energias renováveis, como a solar e a eólica, não tem conseguido competir economicamente com os fosseis.
O estudo de Stanford mostra que, pelo menos no caso da energia eólica, isso está mudando.
"Um novo tipo de turbina grande, já no mercado, pode gerar 1.500 kWh a um custo de 4 centavos de dólar por kWh", disse Jacobson. Esse é o mesmo preço por unidade de energia de uma nova termelétrica à carvão.
No entanto, diz o pesquisador, o governo dos EUA já desembolsou cerca de US$ 70 bilhões em auxílio-saúde para os mineiros de carvão desde 1973. Computados esses custos e mais os do aquecimento global e da fumaça, o preço do kWh do carvão sobe para algo entre 5,5 e 8,3 centavos de dólar.
"A não-inclusão desses custos externos é uma distorção clássica do modelo energético baseado em combustíveis fósseis", afirma o físico José Goldemberg. Segundo Goldemberg, "apesar de não pagar por eles na fonte, o contribuinte acaba pagando de outras formas", como em internações hospitalares.
Para Jacobson, os EUA poderiam instalar um grande parque gerador de energia eólica (que, hoje, corresponde a 0,1% do total produzido naquele pais) em substituição às termelétricas à carvão.
Trocando metade do carvão por turbinas a vento, estima, o país poderia cumprir sua antiga meta de redução de emissões de gases-estufa prevista pelo Protocolo de Kyoto - de 7% em relação aos níveis de 90.
Segundo cálculos da dupla, o custo de instalação de turbinas que substituíssem 10% do carvão seria pago em 20 anos, "na pior das hipóteses", já que o consumidor da Califórnia paga 12 centavos por kWh. "É questão de decisão política, e as pessoas não sabem como tomá-la, pois não conhecem direito a energia eólica."
Adaptado de:
Cláudio Ângelo,
Folha de São Paulo, 24 de Agosto de 2001.