China investe na energia do vento.

Crescimento econômico leva país a buscar fontes alternativas, como o sol, pequenas hidrelétricas e biomassa vegetal e animal.

À distância, as turbinas parecem quase ameaçadoras, surgindo enormes no horizonte como invasoras espaciais dotadas de garras. Mas é preciso chegar bem perto para ouvir o ligeiro ruído do giro de suas pás, colhendo energia do vento. Fora o balido de um enorme rebanho de ovelhas, o barulho mais alto desta pastagem aberta no interior da China é o zunido dos transformadores que ponteiam a planície, captando eletricidade deste pequeno exército de 96 monstros metálicos com suas pás giratórias.

Programa eólico, tido como estratégico por Pequim, começou há 18 anos.

Abençoada com uma região rural vasta e vazia e um brisa que parece permanente soprando através das estepes, o zunido dos transformadores está ficando continuamente mais alto nesta distante província do Norte enquanto os investidores despejam dinheiro na estação eólica. Já é enorme e logo poderá se tornar muito maior.

'Hoje estamos produzindo 68 megawatts (MW), mas em 2008 geraremos no mínimo 400 MW, vangloriou-se Li Yilun, diretor da Usina Energética de Huitengxile. 'Até lá, seremos a maior estação eólica da Ásia.'

 

A crescente necessidade de energia da China recentemente tem despertado a atenção do mundo por causa de suas ousadas tentativas para adquirir companhias petrolíferas estrangeiras como a empresa americana Unocal.

O país também tem feito grandes investimentos na produção de petróleo em países tão distantes como Sudão e Venezuela.

Mas, em âmbito doméstico, com o petróleo ficando escasso, o carvão poluindo o ar das maiores cidades e a mineração de carvão matando 6.009 pessoas no ano passado, o governo chinês está agindo agressivamente para desenvolver suprimentos de energia alternativa.

Em 2020, começando com uma minúscula base estabelecida apenas recentemente, a China espera suprir 10% de suas necessidades com as chamadas fontes de energia renováveis, entre elas o vento, energia solar, pequenos represas hidrelétricas e biomassa como fibras de plantas e excremento de animais.

Até agora, a energia eólica está fazendo os progressos mais impressionantes, tanto que que mesmo que a jactância de Li de logo ter a maior estação eólica da Ásia se torne realidade, terá muito competição apenas dentro da China.

Já estão brotando grandes parques eólicos em províncias muito mais populosas como Guangdong, Fujian e Hebei, e os fabricantes chineses e estrangeiros de turbinas estão competindo furiosamente por este mercado em rápida expansão. O custo por quilowatt está ficando cada vez mais competitivo com o carvão abundante da China.

Muitas províncias litorâneas, entretanto, estão fazendo planos para construir estações eólicas somente fora da costa, onde os vento são fortes e a ocupação da terra não é um problema. A expectativa é que projetos como esses instalem enormes novas turbinas com hélices de 80 metros de extensão, cada uma delas capaz de gerar 1,2 megawatt de eletricidade, o suficiente para levar energia para centenas de lares, se não mais.

'Temos metas grandiosas para o desenvolvimento da energia eólica', disse Wang Zhongying, diretor do Centro para Desenvolvimento de Energia Renovável da China.

'Em 2010, planejamos atingir 4 mil megawatts e, em 2020, a expectativa é chegar aos 20 mil megawatts, ou 20 gigawatts.' Wang disse que essas metas são muito moderadas e poderão ser ultrapassadas.

As maiores limitações, continuou, não estão no potencial da energia eólica da China nem na sua tecnologia de geração, mas na antiquada rede elétrica do país, que não consegue redirecionar energia de uma região para a outra na medida em que a demanda e a oferta aumentam e diminuem. Isso dificulta tirar plena vantagem da energia eólica, cuja produção oscila de acordo com o clima.

Influência estadunidense.

O programa de energia eólica da China tem raízes numa visita aos Estados Unidos feita há 18 anos, no início da decolagem econômica do país. Uma delegação chinesa viu modernas turbinas eólicas em funcionamento em Utah e então voltou determinada a adotar essa tecnologia em casa.

'Compramos algumas turbinas e as trouxemos para Urumqi para ver como elas se comportavam e os dados de produção foram excelentes', conta Wu Gang, um membro da delegação que, na época, acabara de sair da faculdade de Engenharia.

O que se seguiu é uma história que contém alguns dos principais ingredientes do milagre econômico da China, incluindo a disciplinada arregimentação dos recursos intelectuais e financeiros por um Estado determinado a resolver um problema e estabelecer um setor que considera estratégico.

Fabricantes de turbinas para moinhos já têm dificuldades para atender à demanda.

Na sua volta dos Estados Unidos, Wu foi encarregado de uma estação eólica financiada pelo Estado na Província de Xinjiang, onde conseguiu dominar todos os aspectos técnicos do negócio. Mais tarde, o governo forneceu a contribuição inicial (seed money) para o negócio que agora ele comanda, a Goldwind Sciente and Technology Company. É a maior produtora de turbinas eólicas da China e 55% dela continua sendo de propriedade estatal.

A China tem apoiado a energia eólica e outras fontes alternativas de outras formas. Forneceu incentivos fiscais para desenvolvedores, impôs tarifas de eletricidade padronizadas que resultam em subsídio para fontes de energia como o vento - que continuam sendo mais caras do que o carvão - e impôs requisitos para os equipamentos para ajudar os fabricantes locais.

Em fevereiro, o governo chinês promulgou uma lei sobre energia renovável de âmbito nacional que oficializa muitos desses incentivos e impõe meta claras para o aumento na geração de eletricidade a partir de provedores alternativos, mesmo quando o custo do quilowatt for substancialmente mais alto.

O resultado tem sido um verdadeiro surto de crescimento entre fornecedores de equipamentos para energia eólica. 'Esperamos que o setor tenha um crescimento de 50% a 75% ao ano entre agora e 2020', disse Jens Olsen, representante da Vestas, uma fabricante de turbinas dinamarquesa que é a principal fornecedora da China.

'O problema agora é que o setor que está crescendo tão rápido que os produtores de equipamento não conseguem acompanhar', disse Wu da Goldwind. 'A China tem uma forte base industrial e, no ano passado, mais de dez empresas chinesas entraram no mercado, mas elas vão descobrir que a energia eólica não é tão fácil. Envolve muitos tipos diferentes de conhecimento: aerodinâmica, ciência da computação, turbinas e caixas de engrenagens'.

 

Adaptado de:
Howard French,
O Estado De São Paulo/The New York Times, 31 de Julho de 2005.