“O futuro do planeta está em nossas mãos”.
James Lovelock, renomado cientista e ambientalista britânico, tem se destacado como um ferrenho defensor da energia nuclear. Para ele, esta forma de geração é a única capaz de produzir quantidades expressivas de energia sem comprometer ainda mais nossa atmosfera e acelerar o processo de aquecimento global. Em entrevista exclusiva, por telefone, ao jornal "O Átomo" (www.eletronuclear.gov.br), Lovelock fala sobre sua preocupação com o futuro de nosso planeta e o que, ainda, podemos fazer para reverter este quadro.
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Como foi sua história com a energia nuclear? O Sr. já foi contra? Eu nunca fui contra a energia nuclear. Também nunca tive nenhuma ligação com o setor propriamente dito. Fiquei satisfeito porque após a Segunda Guerra Mundial, a energia nuclear começou a ser usada para finalidades pacíficas, e acho que foi quando abrimos o primeiro reator de energia comercial do mundo, em um lugar chamado Calder Hall, no norte da Inglaterra. Posso acrescentar que naquele momento, quando nossa Rainha inaugurou a usina, todos pensamos que era o começo da nova era de produção de energia inteligente. O aquecimento do planeta trará efeitos imediatos e que poderemos sentir agora e ou em alguns anos? O que vai mudar em nossas vidas com esse problema? Na Europa, no último verão, em 2003, houve um aquecimento intolerável que matou mais de 20 mil pessoas. Foi um fato sem precedentes. Nunca tinha acontecido algo assim antes, e os nossos climatologistas estão certos de que foi uma conseqüência do aquecimento global. Isso representa o tipo de evento que acontecerá com mais e mais freqüência, com o passar do século. Teremos muitas surpresas e não podemos prever o que acontecerá. Não sabemos de que forma esses eventos acontecerão. |
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Quase 50 anos depois, a produção de energia nuclear está ressurgindo como uma forma eficaz de reduzir os efeitos do aquecimento global. O Sr. tem se destacado neste debate e contrariado a opinião de muitos movimentos ambientalistas, porque? Com o passar dos anos, os ambientalistas superestimaram
os perigos da energia nuclear e conseguiram amedrontar muito as pessoas.
Tudo começou porque o movimento ambiental estava muito preocupado
com a possibilidade de uma guerra nuclear entre as duas grandes super
potências no século passado. Os dois lados estavam, de forma
perigosa, acumulando estoques gigantescos de armas nucleares. E eu acho
que todos estavam com medo das conseqüências de uma guerra
nuclear. E, partindo do seu desejo de colocar a opinião pública
contra as armas nucleares, eles tiveram sucesso em colocar todos contra
todas as coisas nucleares, incluindo a energia nuclear. No entanto, no último ano, começamos a perceber que o aquecimento do planeta é um problema excessivamente sério, e representa um perigo muito maior do que qualquer risco considerável de falhas de usinas de energia nuclear, então toda a situação mudou. As pessoas têm que entender o quanto isso é sério e como devemos agir rápido. Os climatologistas calcularam, e suas previsões tendem a ser ora subestimadas, ora superestimadas até agora. Há um nível crítico de dióxido de carbono no ar, que, quando atingir, um índice entre 400 e 600 partes por milhão, deixará o aquecimento global fora de controle. Um processo irreversível, que irá continuar e causar destruição pelo mundo por centenas de anos. Se mantivermos nosso modo de vida atual, isso acontecerá em questão de décadas. O argumento contra a energia nuclear mais utilizado é a falta de uma solução definitiva para os rejeitos produzidos. Como o Sr. vê esta questão? Esse problema dos rejeitos, eu acho, novamente, que é um problema de ficção. Todos os rejeitos produzidos no meu país em 50 anos de operação de usinas de energia nucleares caberiam dentro de um cubo, com 10 m de aresta. Não posso entender isso como um problema. Especialmente quando se compara este volume com as milhares de milhas cúbicas de dióxido de carbono que produzimos todo ano através da queima de combustíveis fósseis. É uma montanha enorme, inimaginável... Não podemos vê-la, mas é o que está matando o planeta, tanto que o mundo todo está preocupado agora. Alguns países como a China estão construindo novas usinas nucleares, mas a maior parte dos países europeus interromperam seus programas, especialmente a Inglaterra. Que decisão os ingleses tomarão sobre o seu futuro em termos de energia? É claro que precisamos tomar uma decisão sobre o nosso futuro, e a posição do nosso governo, declarada em um documento chamado "White Paper", para mim, parece loucura. Eles pretendem obter 80% da nossa energia queimando gás natural importado e o restante viria do que eles chamam de energia renovável, isto é, energia eólica, energia hidráulica, e assim por diante. Isso é uma completa loucura. Queimar gás não ajudará o problema do efeito estufa ou do aquecimento global, e tornará o nosso fornecimento de energia excessivamente inseguro. Nós seremos dependentes dos fornecedores e ainda corremos os riscos de rompimentos das tubulações. Isso é uma "roubada". No Brasil, temos duas usinas nucleares em operação e estamos discutindo sobre a possibilidade de retomar a construção da terceira. Há um preconceito muito grande na sociedade e até mesmo dentro do Governo em relação a este tema. As pessoas acreditam que, por termos um grande potencial hídrico, não precisamos da energia nuclear. O que o Sr. tem a dizer para o povo brasileiro? Quanto a energia de origem hidrelétrica, é uma fonte de energia que não interfere na questão do efeito estufa atmosférico. E é aceitável. Eu não sei qual é a quantidade relativa de energia que você pode obter de energia hidrelétrica comparada a nuclear. Mas o que eu sei é que, é perfeitamente possível construir uma nova usina nuclear em menos de 5 anos. E uma hidrelétrica de capacidade equivalente, eu acho, leva muito mais tempo. O que quero dizer para as pessoas no Brasil é que se o aquecimento da terra continuar, é muito provável, que em algum momento neste século, alcance um estágio em que a floresta tropical, a grande Floresta Amazônica, não possa mais se sustentar e desaparecerá E, certamente, vai comprometer também esse grande potencial hídrico. Essa previsão vem de fontes confiáveis |
Adaptado de:
O Átomo, Novembro, 2004
(www.eletronuclear.gov.br)