Energia e meio ambiente.

José Goldemberg

A preservação do meio ambiente nunca foi uma preocupação importante do homem até o inicio do século 20, apesar de aparecer de quando em quando nos escritos dos filósofos da Grécia Antiga. Há 2.400 anos, Platão lamentava as florestas perdidas, descritas por Homero séculos antes, que haviam coberto as montanhas estéreis da Grécia. Nesse caso particular, foi o uso da madeira, principalmente para a construção de navios e em fornalhas, para produzir armas, que levou à destruição as antigas florestas gregas.

Um exemplo mais recente é a degradação do solo e a desertificação que ocorrem em algumas áreas da África, em razão do uso de árvores como combustível. Outra preocupação ambiental do passado era com cidades limpas que dispusessem de água corrente e esgotos, que eram uma prioridade na época, a começar pela própria Roma no inicio da Era Cristã.

Sucede que até recentemente o impacto que as atividades humanas tinham sobre o meio ambiente que nos cerca era relativamente limitado. O principal deles era a construção das próprias cidades, de estradas e a expansão da fronteira agrícola, que desmatou a Europa Ocidental nos últimos cinco séculos, como está ocorrendo hoje com a Amazônia.

O grande responsável pela degradação do meio ambiente nos últimos cem anos, contudo, foi o uso crescente de energia. À medida que carvão e petróleo começaram a serem usados em grandes quantidades, os problemas ambientais aumentaram, como ficou evidente em acidentes e outros eventos ligados diretamente ao uso de energia.

 

A poluição urbana do ar é, provavelmente, o produto indesejável mais visível da civilização moderna - já no século 16, as reuniões do Parlamento britânico, em Londres, foram adiadas por causa de "episódios" graves de poluição urbana, resultante da queima de carvão usado em lareiras para aquecimento residencial.

Um desses episódios mais sérios ocorreu em 1952, quando um nevoeiro muito intenso foi responsável por 4 mil mortes e mais de 20 mil casos de doença. Tais desastres levaram à aprovação, em 1956, da Lei do Ar Puro do Reino Unido, que estabeleceu limites para a emissão de poluentes e os níveis aceitáveis da qualidade do ar. Outras leis se seguiram no Reino Unido, na América do Norte, em muitos outros países da Europa Ocidental e no Japão.

Como resultado, foram criadas agencias para monitorar, regular e avaliar a qualidade ambiental em quase todos os paises do mundo, com conseqüências altamente benéficas. A Cetesb, em São Paulo, é uma delas.

Outros impactos ambientais que provocam grande reação são os relacionados à poluição marinha resultante do vazamento de petróleo, e que estão começando a ficar sérios no Brasil. O acidente com o petroleiro Exxon-Valdez, no Alasca, influenciou seriamente a política ambiental do governo dos EUA.

As causas da degradação ambiental são muitas, incluindo produção e uso de fertilizantes, emissões de mercúrio e de chumbo e outras, resultantes de atividades industriais, mas a mais importante delas é a queima de combustíveis fosseis (carvão, petróleo e gás).

Cerca de 75% das emissões de dióxido de carbono, a principal causa do efeito estufa, provem dessa queima. Cerca de metade do petróleo derramado nos oceanos vem do seu transporte, mais de 80% do enxofre (responsável pela chuva acida) e um terço das emissões de partículas são provenientes das impurezas de carvão e petróleo.

Por essa razão, a solução dos problemas ambientais depende do modo como se produz e consome energia. É eliminando as causas que se poderiam diminuir os efeitos.

Soluções existem e elas dependem essencialmente do uso crescente de energias renováveis, como energia hidrelétrica, e do uso de biomassa (que é o nome genérico dado à madeira e a produtos agrícolas, como cana-de-açúcar), da qual se podem produzir combustíveis sofisticados, como álcool. Além delas, a energia dos ventos e a transformação direta da luz do sol em eletricidade, que pode ser feita.

No mundo todo, energia renovável representa 16% do consumo, mas essa porcentagem é muito maior nos paises em desenvolvimento, sobretudo no Brasil, onde atinge 60%.

É claro que o uso de combustível fóssil não vai desaparecer num futuro próximo, mas é preciso preparar-se, porque as reservas conhecidas de petróleo e gás são finitas e não devem durar mais do que quatro ou cinco décadas.

Muito antes disso haverá escassez desses produtos e custos crescentes. A procura de alternativas energéticas deve começar agora.

Adaptado de:
O Estado de São Paulo, 21 de Março de 2000.